domingo, 11 de novembro de 2007

Blogar,sim, mas respeitando a Lingua Portuguesa!

Nem sempre sou compreendida quando , desiludida, me canso de tanto corrigir sempre os mesmos erros. Por isso, pedi ajuda ao Bernardo Soares ( mais uma vez...) para explicar esta revolta incontida:

"Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. [...]"

Respeitinho!

"Gosto de palavrar" (Bernardo Soares)

Sobre as palavras, refere a propósito Bernardo Soares, um semi-heterónimo de Fernando Pessoa:


"Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. [...] Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. [...] Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. [...]
Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta, o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão. " Fabricou Salomão um palácio ..." E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso; depois rompi em lágrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais - tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda choro. Não é - não - a saudade da infância, de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica."

Relendo este excerto do "Livro do Desassossego", ocorreu-me que talvez fosse interessante, se o momento e a inspiração o permitissem, deixar neste blog apontamentos dos momentos em que as palavras nos acariciaram (como se tivessem boca ...) ou, então, partilhar com outros os textos lidos, que alguma vez nos fizeram derramar lágrimas felizes, de tanta emoção sentida.

Aventura-te!

domingo, 4 de novembro de 2007

"As Palavras"

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes, leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade, Coração do Dia

Pensei recordar o Mestre das palavras. Chamo-lhe assim, porque as palavras eram para Eugénio o seu ofício, no sentido em que permanentemente as esculpia, buscando na sua materialidade a melhor forma de se exprimir.
Deixa-te envolver pelas palavras do poeta e, em cada texto escrito, comprova a riqueza inesgotável deste material .

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Partilha de textos inéditos em Português

Este blog destina-se a acolher as produções dos alunos do 11º ano.
Participa, enviando os teus textos(tema e forma livres).Escreve !