domingo, 4 de novembro de 2007

"As Palavras"

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes, leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade, Coração do Dia

Pensei recordar o Mestre das palavras. Chamo-lhe assim, porque as palavras eram para Eugénio o seu ofício, no sentido em que permanentemente as esculpia, buscando na sua materialidade a melhor forma de se exprimir.
Deixa-te envolver pelas palavras do poeta e, em cada texto escrito, comprova a riqueza inesgotável deste material .

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